ECOlogical and COevolutionary dynamics of SPECIES interactions

Equipe multidisciplinar de pesquisadores brasileiros se junta

para prever o avanço do COVID-19 no Brasil

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Pesquisadores mostram por meio de um novo modelo matemático como o controle do movimento das pessoas entre cidades poderia frear o avanço da doença no Brasil e identificam uma grande vulnerabilidade da região Amazônica

Nos últimos meses, a nova doença COVID-19 vem se espalhando rapidamente pelo mundo devido a sua rápida taxa de contágio entre as pessoas. Além disso, uma das principais causas da disseminação dessa doença é o movimento das pessoas entre as cidades, principalmente a través dos aeroportos. No Brasil, o primeiro registro da doença foi no dia 26 de fevereiro na cidade de São Paulo em uma pessoa vinda diretamente da Itália.

Nós já sabemos que as medidas drásticas implementadas na China sobre a mobilidade das pessoas mitigaram substancialmente a expansão do COVID-19 naquele país*. No Brasil, a falta de um rápido e efetivo controle sanitário nos aeroportos e lugares com grande aglomeração de pessoas, além do atraso na recomendação do isolamento social por parte do governo federal brasileiro tem sido responsável por grande parte nessa crise na saúde pública e humanitária. O que vemos no momento é uma total falta de alinhamento e coordenação por parte do governo federal com os estados e municípios brasileiros.

Enquanto nosso presidente trata essa pandemia como uma “gripezinha” (como ele mesmo diz*) ou uma fantasia propagada pela mídia mundial*, e contraria todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde* (OMS), um grupo multidisciplinar de pesquisadores brasileiros composto por virologistas, geneticistas, microbiologistas, físicos, ecólogos e matemáticos radicados no país e também no exterior se juntou para estudar o avanço da doença no Brasil nos próximos meses. Nesse estudo***, que eu tive o prazer de participar, nós criamos um novo modelo matemático mostrando como o COVID-19 se espalha para cidades brasileiras por meio de seus aeroportos internacionais e depois para cidades com menor comunicação internacional, por meio da rede nacional de aeroportos brasileiros. Nesse estudo, os voos de países estrangeiros que certamente importaram o SARS-CoV-2 até agora (Itália e Espanha) representam uma probabilidade de invasão externa de infecção para cada cidade.

Nós mostramos que a malha aérea brasileira permite uma rápida disseminação do COVID-19 no território, onde as cidades mais conectadas por voos domésticos serão infectadas de forma rápida e ao mesmo tempo. Como mostrado na Figura 1, após 90 dias da chegada da doença ao país, todas das cidades estarão vulneráveis em algum nível a doença. Esse rápido avanço em um curto espaço de tempo poderia colapsar os serviços de saúde, mesmo naquelas cidades com melhor infraestrutura de saúde. Um ponto importante que nós encontramos é que a cidade de Manaus (ao norte do Brasil) é um grande centro regional na malha aérea brasileira e com grande capacidade de de espalhar o COVID-19 pelas regiões mais remotas da região Amazônica, expondo, rapidamente as populações indígenas a essa nova doença. Nesse estudo, nós também mostramos que a rápida disseminação da doença no país ocorrerá entre os dias 65 e 80 após a chegada da doença (o que seria aproximadamente entre os dias 1 de maio e 15 de maio). Entretanto, existirá dois grandes momentos no aumento diário da doença, o primeiro após 50 dias (~16 de abril) e o segundo após 90 dias (~26 de maio) (Figura 2).

Apesar do cenário não tão otimista para os próximos meses, ainda há tempo para reverter essa situação e evitar o colapso do sistema de saúdo brasileiro no mês de maio. O primeiro ponto é uma mudança urgente na política pública nacional para preservar as regiões mais remotas, assim como os bairros mais carentes dentro dos grandes centros, onde o serviço de saúde é mais debilitado. O segundo ponto é o isolamento social entre as pessoas, uma vez que o movimento das pessoas entre as cidades foi identificado como um grande mecanismo responsável pela disseminação da doença no país. Essas duas medidas em conjunto farão com que menos pessoas se contaminem ao mesmo tempo, evitando o colapso do sistema de saúde, e o mais importante: SALVAR VIDAS!!!.

É importante ressaltar que eu tenho total empatia com as pessoas que não podem evitar o isolamento social de alguma maneira (seja por necessidade econômica/porque o patrão exige ou porque vivem em casas com um grande número de pessoas... como vemos nas periferias brasileiras) e que estão mais expostas a essa crise humanitária. Somos um país com milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade social, e é dever do Estado intervir na economia e salvar a sua população ao invés de salvar o “mercado”. O governo federal precisa garantir as condições mínimas de sobrevivência a todos aqueles que estarão impossibilitados de trabalhar. Nesse sentido, também temos que parar para refletir sobre o modelo económico que vivemos: não podemos deixar que vidas humanas sejam colocadas em risco por causa da economia. Karl Marx já dizia: “a desvalorização do mundo humano aumenta em proporção direta com a valorização do mundo das coisas”. Precisamos de uma mudança radical no modelo econômico atual, já que a estrutura capitalista promove apenas o interesse da classe dominante. Ainda Há Tempo !!!

"Sempre haverá mais ignorantes que sabedores enquanto a ignorância for gratuita e a ciência dispendiosa." Marquês de Maricá

 

***O Estudo: “Severe airport sanitarian control could slow down the spreading of COVID-19 pandemics in Brazil”. Preprint no medRxiv https://doi.org/10.1101/2020.03.26.20044370

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Figura 1. Vulnerabilidade da transmissão COVID-19 nas cidades brasileiras com aeroportos nos primeiros 60, 75, e 90 dias (26 de abril, 11 de maio e 26 de maio, respectivamente) após a chegada da doença no país.

 

Figura 2. Aumento diário no número de pessoas contagiadas pelo COVID-19 nos primeiros 90 dias após a chegada da doença no país.

 

 

VEJA NOSSA ANIMAÇÃO MOSTRANDO COMO SERÁ A EXPANSÃO DA DOENÇA NO BRASIL AO LONGO DO TEMPO

 

 

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